15 feb 2017

El Tribunal Fluvial

Esta semana en el blog, una verdadera joyita... en portugués!
Lucía Wasserman es una autora que nació en Brasil y reside hace décadas en Israel.  Su escritura se caracteriza por la riqueza de sus descripciones, la sensibilidad de sus personajes y la facilidad para trasportarnos a ámbitos de su Brasil natal.  En el relato que leerán a continuación, la pluma mágica de Lucía nos lleva a navegar en una pequeña embarcación que se detiene en pueblitos del Amazonas para impartir  Justicia... qué idea maravillosa. 
Que lo disfruten y estimaremos muchísimo si hacen click al pie y nos dejan vuestra opinión...

O TRIBUNAL FLUVIAL
Por Lucía Wasserman

Como de costume, no dia 18 de cada mes o barco "Sancho Pança", aportava no porto fluvial de Itamatatuba, cidadezinha  praiana do Estado do Amapá.  Trazia  consigo mercadorias, carne, e cereais , turistas, e o mais importante de tudo, a equipe do Tribunal de Justiça da Capital, encabeçado pela Juiza, Dra Celeste Amaral.
Este era o quinto porto fluvial que aportava no rio Oiapoque, confluente do Amazonas, e o ultimo, da rota que a equipe de justiça percorria cada mes, nos doze meses do ano.

Quando desembarcavam, apesar de aparentar um semblante serio,  e darem-se  ares importantes, não  conseguiam esconder o cansaço e a aparencia descuidada com suas roupas em desalinho, amassadas, e surradas. Comentavam para se desculpar.
"Quem poderia  se manter elegante, fresco e perfumado, naquela longa jornada fluvial agitada atravessando zonas  de chuvas, ventos e calores tropicais..."
E o conhecido e o costumeiro se repetiam.

As sete da manhã, com  o sol tropical quente e  ja brilhando, os viajantes ja estavam de pé, naquele espaco sem paredes, alguns deles ainda deitados em suas redes coloridas,outros preparando seu café em fogareirinhos de uma boca só, e pouco a pouco, dentro daquele pequeno mundo fluvial começava o movimento de um novo dia.
"Sancho Pança" alem da equipe naval permanente, levava cerca de 90 passageiros, entre eles pessoas locais, turistas mochileiros jovens, e os representantes do Tribunal que vinham julgar e fazer justiça.

Apesar de navegarem num  rio, aparentemente calmo e tranquilo, o barco atravessava diferentes zonas, e  estava sujeito aos caprichos da natureza.  Vez por outra as fortes correntesas fluviais, e altas ondas balançavam  o "Sancho Pança" e os passageiros eram atirados  de um lado para outro, ao seu bel prazer.Um ja havia quebrado o joelho, outra perdido a dentadura, um terceiro,aproveitado o ensejo  agarrou o traseiro da mulata, e quase  quebrou o pau com o marido ciumento.
Haviam tambem  aqueles que vomitavam a alma, e outros  que rezavam cem Ave Marias e invocavam todos os Santos na esperança de que estes viessem salvá-los de um possivel naufragio.

Quando chegava a calmaria  depois das chuvas tropicais vinham os enchames de mosquitos e pernilongos. Havia o receio de uma possivel picada que resultasse em malária,ou de visitas e armadilhas inesperadas de piratas amazonenses locais, que invadiam as naves e atacavam os inocentes passageiros para roubar, e lhes tirar os poucos pertences.
Onde tudo a primeira vista poderia parecer um Paraiso flutuante, longe do torvelinho das grandes cidades e da poluição sonora e ambiental, se tornou um novo foco de agitação, e a Justiça vinha navegando  de barquinho, para por ordem na situação.

O porto de partida era o porto da cidade de  Macapá, capital do Amapá, e navegando pelo Amazonas alcançavam o afluente  Oiapoque. No seu roteiro o barco atravessava zonas de mata, e florestas tropicais, cortadas pelos rios, que caprichosamente serpenteavam, caudalosos  alimentados pelas chuvas constantes, e calor equatoriano.
Ate recentemente vigorava na região a lei  do sub mundo, e dos caprichos dos fortes, influentes, verdadeiros  oligarcas amazonenses locais,que faziam justiça com as proprias mãos, quando casos  de  linchamento eram comuns, e  o uso de machados utilizados  em lutas corporais.    Por decreto presidencial  veio então , a Lei e a  Justiça com a finalidade de por ordem naquela confusão.

Naquela manhã ao aportarem no pequeno porto de Itamatatuba, uma cidadezinha de choupanas de barro  e 600 habitantes, a Juiza Celeste, acompanhada do policial Jacinto, que servia tambem de funcionario do Tribunal, montaram a improvisada sala de julgamentos no conves aberto do pequeno barco, que a esta hora  gozava de uma brisa matutina natural.
Sobre a mesa tosca de madeira curtida e cansada, os  processos se  empilhavam aguardando  o toque do relógio quando, as nove horas em ponto, seriam iniciadas as audiencias  agendadas há meses para aquele dia.
Ainda cedo naquela manhã, o povo ja se havia juntado no pequeno cais,  a espera da chegada  do Sancho Pança.  E quando o viram se aproximar o brindaram  com brados e gritos  de entusiasmo.

Gervasio o guarda local era o encarregado de manter a  ordem naquele  povo, e alem de apitar e pedir silencio e respeito a eminente autoridade que chegava, anotava no seu pequeno caderno o nome dos presentes, partes nos processos que seriam julgados. 
A grande expectativa fazia com que os animos se acendessem, as partes rivais se encontrassem e os gritos e discussoes se ouvissem naquela aldeia fluvial calma e pacata.
Por uma pequena e ingreme escada amarrada ao barco os passageiros desciam ao cais, e por esta mesma escada as 8.45 pontualmente, começavam a subir as partes dos casos que seriam  julgados. Eles foram se acomodando em banquinhos formando  um meio circulo frente a mesa da Juiza, que as nove horas em ponto,  batendo seu martelo na mesa iniciava a nova jornada de julgamentos, pedindo aos presentes que sentassem, e guardassem silencio.
Era então que se fazia ouvir a voz  alta de Jacinto.
-Processo no. 323. Caso Feitosa. Salustiano Feitosa, de 35 anos, dono da discoteca "Moulin Rouge", acusado de falta de pagamento de pensão a sua mulher Solange, e ao filho de 6 meses de idade.
-Processo no. 434. Caso do Manuel Ferreira, o dono da única padaria de Itamatatuba, acusado de ter posto fogo no armazem de Gervasio, por medo de concorrencia"
-Processo no. 359. Caso do cachorro Cacareco, representado por seu dono Bonifacio, por ter arrebentado a cerca, e entrado na casa do vizinho, matando 20 galinhas e seus pintos que se encontravam  no poleiro"
-Processo no. 521- Caso da Maria Madalena, acusada de ter utilizado veneno de rato para liquidar Mercedes, amante de seu marido Leopoldo"
Os processos seguiam um apos outro, Celeste interrogava as partes, ouvia as testemunhas, exigia as provas, e as partes se acusavam e se defendiam. Advogados não existiam.
"Quem tem dinheiro para contratá-los?" Nem a Justiça gratuita se volutariava para chegar lá.

Celeste e seu secretario o policial Jacinto se encarregavam de tudo. Ela registrava os protocolos das audiencias, decidia, impunha a Justiça e ele a Ordem, entre gritos, discussões, lamurias, choros e ate casos de desmaios e síncopes fulminantes.
Antes de cada Sentença o olhar de Celeste se dirigia aos presentes. Um grande silencio e a espectativa. Aquela pobre gente humilde, sem instrução, mal vestida, muitos deles sem sapatos, seus rostos queimados  e sulcados pelo sol, aguardavam o veredicto. E este vinha sempre, pois os casos tinham que ter solução.
A Juiza Celeste calculava as penas. Prisão para casos de homicidios e  atos de violencia. Para os demais casos onde não havia  perigo de vida, trabalhos forçados para a comunicade.

As seis horas da tarde o "Sancho Pança " apitava  e anunciava a partida.
"Todos a Bordo" -gritava Jacinto-. E haviam aqueles que no pequeno cais levantavam as mãos dando adeus a pequena embarcação que se afastava.
A noite chegava e a nave tranquila percorria o enorme rio. O ceu apinhado de estrelas e o ruido inconfundivel daquela mata  se fazia ouvir. Luzes esporadicas de vagalumes e olhos brilhantes dos crocodilos eram pequenas lanternas que marcavam aquela misteriosa floresta.
Celeste, depois de um banho merecido, estirada numa rede, e fumando seu cigarro recordava os julgamentos do dia. Em sua cabeça de Juiza,  sempre a eterna duvida se realmente ela fizera justiça.
Vinham em seguida os sonhos. Os sonhos de um dia encontrar o parceiro predileto, de construir e montar uma casa em solo fixo, de ter filhos , e de um dia ser  transferida para a Capital, galgar os graus  profissionais e chegar a ser  Presidente do Supremo Tribunal...

2 comentarios:

  1. Se bem nao ha um enredo e um desenlace, se pode dezir que e uma descricao maravilhosa de aquele ambiente na Amazonia.
    Nossa querida Dona Luzia e uma maestra neste tipo de relato.
    Parabens pra Dona Luzia.
    (desculpa nao tem puntuacao do portuguez neste teclado)

    ResponderBorrar
    Respuestas
    1. Gracias Daniel, gostei do seu portunol, totalmente claro e comprensivel.
      Obrigada
      Lucia (com "C" e não com "Z"

      Borrar

Tu opinión enriquece este blog... gracias!