Lucía Wasserman es una autora que nació en Brasil y reside hace décadas en Israel. Su escritura se caracteriza por la riqueza de sus descripciones, la sensibilidad de sus personajes y la facilidad para trasportarnos a ámbitos de su Brasil natal. En el relato que leerán a continuación, la pluma mágica de Lucía nos lleva a navegar en una pequeña embarcación que se detiene en pueblitos del Amazonas para impartir Justicia... qué idea maravillosa.
Que lo disfruten y estimaremos muchísimo si hacen click al pie y nos dejan vuestra opinión...
O TRIBUNAL FLUVIAL
Por Lucía Wasserman
Como de costume, no dia 18 de cada mes o barco "Sancho Pança",
aportava no porto fluvial de Itamatatuba, cidadezinha praiana do Estado do Amapá. Trazia consigo mercadorias, carne, e cereais ,
turistas, e o mais importante de tudo, a equipe do Tribunal de Justiça da
Capital, encabeçado pela Juiza, Dra Celeste Amaral.
Este era o quinto porto fluvial que aportava no rio Oiapoque, confluente
do Amazonas, e o ultimo, da rota que a equipe de justiça percorria cada mes, nos
doze meses do ano.
Quando desembarcavam, apesar de aparentar um semblante serio, e darem-se
ares importantes, não conseguiam esconder
o cansaço e a aparencia descuidada com suas roupas em desalinho, amassadas, e
surradas. Comentavam para se desculpar.
"Quem poderia se manter elegante, fresco e perfumado,
naquela longa jornada fluvial agitada atravessando zonas de chuvas, ventos e calores tropicais..."
E o conhecido e o costumeiro se repetiam.
As sete da manhã, com o sol
tropical quente e ja brilhando, os
viajantes ja estavam de pé, naquele espaco sem paredes, alguns deles ainda deitados em suas redes
coloridas,outros preparando seu café em fogareirinhos de uma boca só, e pouco a
pouco, dentro daquele pequeno mundo fluvial começava o movimento de um novo
dia.
"Sancho Pança" alem da equipe naval permanente, levava cerca
de 90 passageiros, entre eles pessoas locais, turistas mochileiros jovens, e os
representantes do Tribunal que vinham julgar e fazer justiça.
Apesar de navegarem num rio,
aparentemente calmo e tranquilo, o barco atravessava diferentes zonas, e estava sujeito aos caprichos da
natureza. Vez por outra as fortes correntesas
fluviais, e altas ondas balançavam o "Sancho
Pança" e os passageiros eram atirados de um lado para outro, ao seu bel prazer.Um ja
havia quebrado o joelho, outra perdido a dentadura, um terceiro,aproveitado o
ensejo agarrou o traseiro da mulata, e
quase quebrou o pau com o marido
ciumento.
Haviam tambem aqueles que
vomitavam a alma, e outros que rezavam
cem Ave Marias e invocavam todos os Santos na esperança de que estes viessem
salvá-los de um possivel naufragio.
Quando chegava a calmaria depois
das chuvas tropicais vinham os enchames de mosquitos e pernilongos. Havia o
receio de uma possivel picada que resultasse em malária,ou de visitas e
armadilhas inesperadas de piratas amazonenses locais, que invadiam as naves e
atacavam os inocentes passageiros para roubar, e lhes tirar os poucos
pertences.
Onde tudo a primeira vista poderia parecer um Paraiso flutuante, longe
do torvelinho das grandes cidades e da poluição sonora e ambiental, se tornou
um novo foco de agitação, e a Justiça vinha navegando de barquinho, para por ordem na situação.
O porto de partida era o porto da cidade de Macapá, capital do Amapá, e navegando pelo
Amazonas alcançavam o afluente Oiapoque.
No seu roteiro o barco atravessava zonas de mata, e florestas tropicais,
cortadas pelos rios, que caprichosamente serpenteavam, caudalosos alimentados pelas chuvas constantes, e calor
equatoriano.
Ate recentemente vigorava na região a lei do sub mundo, e dos caprichos dos fortes,
influentes, verdadeiros oligarcas
amazonenses locais,que faziam justiça com as proprias mãos, quando casos de linchamento eram comuns, e o uso de machados utilizados em lutas corporais. Por decreto presidencial veio então , a Lei e a Justiça com a finalidade de por ordem naquela
confusão.
Naquela manhã ao aportarem no pequeno porto de Itamatatuba, uma
cidadezinha de choupanas de barro e 600
habitantes, a Juiza Celeste, acompanhada do policial Jacinto, que servia tambem
de funcionario do Tribunal, montaram a improvisada sala de julgamentos no
conves aberto do pequeno barco, que a esta hora gozava de uma brisa matutina natural.
Sobre a mesa tosca de madeira curtida e cansada, os processos se empilhavam aguardando o toque do relógio quando, as nove horas em
ponto, seriam iniciadas as audiencias
agendadas há meses para aquele dia.
Ainda cedo naquela manhã, o povo ja se havia juntado no pequeno
cais, a espera da chegada do Sancho Pança. E quando o viram se aproximar o brindaram com brados e gritos de entusiasmo.
Gervasio o guarda local era o encarregado de manter a ordem naquele povo, e alem de apitar e pedir silencio e
respeito a eminente autoridade que chegava, anotava no seu pequeno caderno o
nome dos presentes, partes nos processos que seriam julgados.
A grande expectativa fazia com que os animos se acendessem, as partes
rivais se encontrassem e os gritos e discussoes se ouvissem naquela aldeia
fluvial calma e pacata.
Por uma pequena e ingreme escada amarrada ao barco os passageiros
desciam ao cais, e por esta mesma escada as 8.45 pontualmente, começavam a
subir as partes dos casos que seriam
julgados. Eles foram se acomodando em banquinhos formando um meio circulo frente a mesa da Juiza, que as
nove horas em ponto, batendo seu martelo
na mesa iniciava a nova jornada de julgamentos, pedindo aos presentes que
sentassem, e guardassem silencio.
Era então que se fazia ouvir a voz
alta de Jacinto.
-Processo no. 323. Caso Feitosa. Salustiano Feitosa, de 35 anos,
dono da discoteca "Moulin Rouge", acusado de falta de pagamento de
pensão a sua mulher Solange, e ao filho de 6 meses de idade.
-Processo no. 434. Caso do Manuel Ferreira, o dono da única padaria de
Itamatatuba, acusado de ter posto fogo no armazem de Gervasio, por medo de
concorrencia"
-Processo no. 359. Caso do cachorro Cacareco, representado por seu dono
Bonifacio, por ter arrebentado a cerca, e entrado na casa do vizinho, matando
20 galinhas e seus pintos que se encontravam no poleiro"
-Processo no. 521- Caso da Maria Madalena, acusada de ter utilizado
veneno de rato para liquidar Mercedes, amante de seu marido Leopoldo"
Os processos seguiam um apos outro, Celeste interrogava as partes, ouvia
as testemunhas, exigia as provas, e as partes se acusavam e se defendiam.
Advogados não existiam.
"Quem tem dinheiro para contratá-los?" Nem a Justiça gratuita
se volutariava para chegar lá.
Celeste e seu secretario o policial Jacinto se encarregavam de tudo. Ela
registrava os protocolos das audiencias, decidia, impunha a Justiça e ele a
Ordem, entre gritos, discussões, lamurias, choros e ate casos de desmaios e
síncopes fulminantes.
Antes de cada Sentença o olhar de Celeste se dirigia aos presentes. Um
grande silencio e a espectativa. Aquela pobre gente humilde, sem instrução, mal
vestida, muitos deles sem sapatos, seus rostos queimados e sulcados pelo sol, aguardavam o veredicto.
E este vinha sempre, pois os casos tinham que ter solução.
A Juiza Celeste calculava as penas. Prisão para casos de homicidios
e atos de violencia. Para os demais
casos onde não havia perigo de vida, trabalhos
forçados para a comunicade.
As seis horas da tarde o "Sancho Pança " apitava e anunciava a partida.
"Todos a Bordo" -gritava Jacinto-. E haviam aqueles que no
pequeno cais levantavam as mãos dando adeus a pequena embarcação que se
afastava.
A noite chegava e a nave tranquila percorria o enorme rio. O ceu apinhado
de estrelas e o ruido inconfundivel daquela mata se fazia ouvir. Luzes esporadicas de
vagalumes e olhos brilhantes dos crocodilos eram pequenas lanternas que
marcavam aquela misteriosa floresta.
Celeste, depois de um banho merecido, estirada numa rede, e fumando seu
cigarro recordava os julgamentos do dia. Em sua cabeça de Juiza, sempre a eterna duvida se realmente ela
fizera justiça.
Vinham em seguida os sonhos. Os sonhos de um dia encontrar o parceiro
predileto, de construir e montar uma casa em solo fixo, de ter filhos , e de um
dia ser transferida para a Capital,
galgar os graus profissionais e chegar a
ser Presidente do Supremo Tribunal...
Se bem nao ha um enredo e um desenlace, se pode dezir que e uma descricao maravilhosa de aquele ambiente na Amazonia.
ResponderBorrarNossa querida Dona Luzia e uma maestra neste tipo de relato.
Parabens pra Dona Luzia.
(desculpa nao tem puntuacao do portuguez neste teclado)
Gracias Daniel, gostei do seu portunol, totalmente claro e comprensivel.
BorrarObrigada
Lucia (com "C" e não com "Z"